quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Revoluções: O passado das irmãs e suas reações aos obstáculos da vida

A novela “A Vida da Gente”, de Licia Manzo, hoje entra num novo estágio após Manuela flagrar a irmã e o marido aos beijos graças a uma armação da perversa Eva. Armações à parte, o fato que não pode ser negado é que Ana traiu a confiança de Manuela e essa quebra de confiança Manu não será capaz de perdoar. Podemos compreender as atitudes das personagens à luz de como ambas foram criadas por uma mãe que por toda a vida desprezou Manuela enquanto colocava todas as suas expectativas sobre Ana?

Manuela
Ao analisar a personalidade de Manuela percebemos nela uma mulher doce, solidária e amiga, mas ao mesmo tempo com personalidade suficientemente forte para sobreviver a uma mãe dominadora e cruel que a desprezou desde criança. Foi na relação com a irmã Ana que Manu encontrou base para aprender a amar e a respeitar os demais, de modo que mesmo a sua vida tão difícil desde cedo não lhe tirou a doçura e o respeito pelos demais. Manuela mais do que “sempre soube dividir”, ela “sempre soube ceder”, de modo que tem aquele traço de personalidade de estar “pedindo desculpas por existir” o tempo todo.

Foi por isso que ao sentir o clima esquentando entre Rodrigo e a irmã e por ter plena consciência do passado dos dois, Manuela se angustia, mas prefere encarar o problema de frente, sem fugas, sem meias-verdades, mesmo que isso colocasse seu casamento em risco. Para Manuela, a mentira, as coisas ocultas fariam mais mal a ela do que saber a verdade. Então ela questiona diretamente o marido Rodrigo e a irmã Ana sobre os sentimentos de um pelo outro, descrevendo a si mesma do modo franco e honesto com que sempre lidou com a vida. Ao questionar a irmã e o marido sobre seus sentimentos, Manu põe o dedo no interruptor a fim de acender as luzes mesmo sabendo que diante da temida resposta, sua única atitude seria de colocar fim em seu casamento e perder tudo aquilo que levou tanto tempo para construir, sua casa, sua família, sua estabilidade econômica.

Diante da confirmação dos dois sobre seus sentimentos, Manuela estava realmente disposta a sair do caminho, como se esse “sair do caminho” não significasse jogar fora os últimos cinco anos de sua vida. Mas Manu não aceita viver uma mentira, ela não é capaz de suportar a tensão do segredo, do estranhamento entre ela e sua irmã. Uma vez que Manu assume corajosamente a atitude de descrever seus medos e encarar a verdade de peito aberto o mínimo que ela esperava era a mesma franqueza de Rodrigo e Ana.

Porém, essa franqueza não veio porque Rodrigo ainda não está seguro sobre o que sente e confirmar as suspeitas da esposa poria um fim a seu casamento. Rodrigo está completamente perdido entre a certeza da vida estável e feliz com Manu e as sombras dos projetos desfeitos de um futuro interrompido com Ana. Rodrigo não enxerga a si mesmo e, portanto, não sabe o rumo que quer dar à própria vida. E quanto à Ana?

Ana

Ana desde adolescente mostra uma reação de fuga a cada problema que a vida lhe impõe. No início da novela, Rodrigo chega a dizer à Ana que a causa do seu “jogo agressivo no tênis” é que ela não consegue agir assim na própria vida, sempre cedendo às chantagens da mãe. Superar obstáculos físicos é para Ana muito mais fácil do que lidar com problemas gerados pela convivência entre as pessoas.  A grande campeã nas quadras era na verdade uma jovem blindada dos problemas do mundo ao seu redor, acostumada a ser sempre cuidada pela mãe Eva e pela treinadora Vitória que decidiam tudo por ela, de modo que cresceu sufocada e incapaz de enfrentar seus problemas de frente e cuidar da própria vida pelos próprios meios.

A Ana adolescente namora de modo escondido porque não consegue enfrentar a mãe em processo complicado de divórcio com o pai de Rodrigo. Ao descobrir-se grávida, Ana não procura Rodrigo para dividir com ele a responsabilidade e sim cede às pressões da mãe e da treinadora para viajar e entregar a criança em adoção. Ana desiste de entregar a criança, mas ainda dominada pela mãe, aceita que Eva registre a filha em seu nome. Ao revoltar-se com a situação, ao invés de enfrentar a mãe, Ana simplesmente decide fugir na calada da noite arrastando consigo sua irmã Manuela, sem ao menos se perguntar se isso atrapalharia a vida de Manu. Ocorre o acidente e interrompe-se a história. E se não tivesse ocorrido o acidente? Será que Ana teria coragem mesmo de construir sua vida com Rodrigo, ou retornaria a Porto Alegre arrastada pela mãe e pelas exigências da carreira, fugindo de Rodrigo mais uma vez? A resposta não sabemos, mas ao analisar a personalidade de Ana , ela não me parece compatível com alguém capaz de largar tudo e enfrentar a vida ao lado de um rapaz que seria expulso de casa pelo pai assim que decidisse assumir a filha, como de fato aconteceu durante o coma de Ana. Não acredito que Ana teria construído uma vida ao lado de Rodrigo, reerguendo-o e transformando-o num adulto com a dignidade de Manuela.

De qualquer modo, Ana ao despertar do coma continua com a mesma personalidade dada ao não enfrentamento das situações difíceis, o mesmo espírito preparado para sair correndo diante das dificuldades está ali. Diante da franqueza de Manuela, Ana opta por mentir e inventar uma viagem para evitar as situações de encontro com Rodrigo. Ana opta por deixar a própria filha para trás, antes de conseguir estabelecer um vínculo real com a criança. Ana foge como sempre fugiu demonstrando a mesma fraqueza que a levou a não resistir aos apelos da paixão por Rodrigo e beijá-lo às escondidas traindo a irmã. Ana não via saída para essa situação porque a única saída passava pelo enfrentamento das difíceis verdades entre os três e Ana não tem estrutura para enfrentar essa situação, por isso acaba metendo os pés pelas mãos, mente para a irmã que tanto ama e acaba por traí-la.

Nenhum deles agiu com maldade, Rodrigo mentiu por estar confuso, Ana mentiu por fraqueza, mas Manuela não consegue ver isso porque ela é muito clara consigo mesma e é uma mulher forte. Manuela não perdoa a traição dos dois porque se propôs a conversar sobre isso e resolver a situação de modo maduro preservando a amizade dos três. Manu não pode perdoar a traição porque para ela a confusão de Rodrigo e a fraqueza de Ana não justificam tê-la "feito de boba", em outras palavras, para Manu o respeito por seus sentimentos lhe foi negado e a mentira machucou bem mais fundo do que crueldade de uma situação complicada imposta pela vida. Mas ao não perdoar, ao romper com a irmã e ao ter seu lar destruído, Manuela receberá uma terrível carga de angústia e perderá neste momento suas referências de amor. Como reagirá essa mulher?


sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

Julia

O mundo da pequena Julia, no qual ela se sente segura, é aquele lar estável e harmônico formado por Rodrigo e Manuela. Julia sempre soube que é filha da Ana porque “saiu da barriga da Ana”, mas foi com a Manuela que ela estabeleceu um vínculo de mãe e filha. Por isso mesmo, quando a Julia começou a chamar a Manu de “mãe” , o casal procurou uma psicóloga que os aconselhou a deixar, uma vez que o vínculo mãe e filha estava estabelecido.

A Julia sempre soube a respeito da Ana e a visitava no hospital em diversas ocasiões acompanhada de seus pais. Entretanto, não se relacionava com aquela mãe que só dormia, portanto é natural que o despertar da Ana fosse visto pela Julia como algo ameaçador.
Diante desta mãe que retorna à vida e passa a falar e a interagir com ela, a Julia imediatamente percebe a situação como um perigo iminente de ser obrigada a passar por uma “troca” de mães, como se após o retorno da Ana a Manuela tivesse que deixar de ser sua mãe para dar lugar à outra e isso deixa a Julia apavorada. A Manuela é a mãe adotiva da Julia, não apenas uma tia biológica, de modo que a menina a ama e não quer perdê-la.
Percebendo isso, a Manuela procurou convencer a Julia de que ela não corre o risco de perdê-la, mas ganhará outra mãe e assim terá duas mães. Ao se convencer disso, a Julia aceita a Ana e inicia um relacionamento com ela. O problema é que a Eva diz à menina que “a Ana é a única mãe dela e que a Manuela a roubou dela, mas agora a Ana a quer de volta”. Ouvir isso fez renascer o pesadelo da criança que não quer perder a mãe que ela ama. Para a Julia é inaceitável trocar uma mãe por outra, de modo que ela passa a rejeitar a Ana porque a vê como uma ameaça ao seu mundo.
 A Julia não chama a Ana de mãe porque ainda não criou este vínculo com ela, e também porque ao não chamá-la de mãe afasta a possibilidade de ter que fazer uma troca de mães o que seria muito confuso para ela. A Julia jamais aceitará perder a Manuela, portanto, para que a menina aceite a Ana e a chame de mãe, ela precisa ter a certeza de que não sofrerá nenhuma perda.  
O desafio está aí: a Ana precisa reconquistar a filha, porém isso só será possível se ela se harmonizar com a irmã Manuela e deixar claro para a Julia que ela não terá que escolher entre uma e outra, mas poderá ser feliz com suas duas mães. Mas ainda existe a relação com o Rodrigo com todos os conflitos envolvidos. Ao se envolver com o pai da menina e provocar a separação do casal, a Ana se tornará uma ameaça ainda maior aos olhos da Julia que poderá rejeitá-la de vez. Na cabecinha da criança: se a Ana já tomou o pai de volta logo a tomará também. Julia sentirá que o retorno da Ana destruiu o lar onde ela se sentia segura e isso tornará a relação das duas impossível num primeiro momento.

Rodrigo

Rodrigo viveu uma grande paixão por Ana na adolescência, entretanto essa paixão foi frustrada e ele ficou sem entender nada quando a Ana, influenciada pela mãe, desistiu dele e simplesmente passou a ignorá-lo até que viajou para a Argentina sem dar explicações. Quando finalmente ela decide revelar o porque de tantas complicações, acontece o acidente e ele tem novamente suas expectativas frustradas.  O convívio com a Manuela e a criação da filha Julia faz nascer um amor entre eles e ambos constroem um amor terno e um casamento estável e feliz. O casal vai bem, prospera na vida através do buffet “Sabores da Juju” pelo talento da Manuela e criam a Julia num ambiente de estabilidade, ternura e harmonia.

Entretanto, o improvável despertar da Ana de um coma de cinco anos faz coloca Rodrigo diante de um impasse: a paixão frustrada no passado retorna com tudo aquilo que ficou na promessa e é exponenciada pela sensação do proibido. Rodrigo se vê em dúvidas pois tem certeza de que ama a Manuela e não quer perder o que construiu com ela, mas ao mesmo tempo a imagem da paixão pela Ana, de todas as promessas frustradas, de tudo o que poderia ter sido e não foi o colocam numa situação de dúvidas.

É natural que uma paixão que ficou na expectativa ganhe uma força arrasadora e irresistível. É como disse o Lourenço: essas histórias não terminam porque nunca começam de verdade. Seja como for, Rodrigo e Ana precisam viver essa história, trazê-la da imaginação para a realidade para saber se esse amor é real ou não. Pode ser que descubram que na verdade não funcionam juntos e que devem seguir outros caminhos. Mas eles precisam saber o tal do “que poderia ter sido”. Porém, ao se relacionar com Ana e abandonar Manuela, ele provocará muita dor em Manu e em sua filha Julia que não aceitará a separação dos pais que ela conhece e acabará culpando Ana por isso.

quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Ana

Ana desperta num mundo novo após um coma de cinco anos onde já não existe a celebridade adolescente e tenista promissora que foi um dia, o homem por quem estava apaixonada seguiu a vida e casou-se com sua irmã e ela perdeu os cinco primeiros anos de sua filha. Entretanto, para ela é como se o tempo não tivesse passado em cinco anos,  mas simplesmente após uma noite de sono. Por isso ela se sente tão inadequada, tão sem chão.

O desafio de Ana é reencontrar seu lugar, decifrar seus próprios sentimentos e recuperar a relação com a filha que ainda precisa ser construída. Não adianta falar em “direitos”, pois não se obriga ninguém a amar e a Julia estabeleceu um vínculo filial com a Manuela. Passados cinco anos, a relação entre a Ana e a Julia precisa ser recriada para acontecer.

Quando Ana desperta do coma, seus sentimentos estão revirados pela sensação de interrupção. Por causa disso, sente-se traída pela irmã ao encontra-la casada com Rodrigo. O passar do tempo e o conhecimento do passo-a-passo dos acontecimentos a faz compreender melhor tudo isso, mas não a ponto de superar um sentimento que ficou interrompido, ficou na promessa. Ana e Rodrigo não tiveram tempo de provar a vida a dois para saber a realidade do que sentem um pelo outro. Essa expectativa, esse sentimento do que poderia ter sido aumenta a atração de Ana por Rodrigo e dele por ela.

Com a vida interrompida e sem saber “como teria sido”, Ana vê na vida da irmã Manuela exatamente a vida que ela gostaria de ter construído ao lado de Rodrigo. É Ana quem deseja a vida da irmã por confundir com seus próprios sonhos e expectativas. Ela se sente culpada em relação a “desejar a vida da irmã” como se isso fosse “recuperar os anos que perdeu”. Mas Ana precisa experimentar e saber o que sente por Rodrigo. Novamente o tempo, compositor dos destinos arma uma nova cilada para os três.

Se Ana e Rodrigo ficarão juntos não se pode saber. É possível que eles descubram que não funcionam bem como casal, que a paixão adolescente existiu num momento e não pôde ser vivida assim como não pode ser recuperada. Mas eles precisam descobrir. O problema é que essa descoberta trará muitos conflitos e fará sofrer duas pessoas que eles amam demais: a Julia e a Manuela.  

Manuela

A personagem Manuela é uma das mais interessantes e complexas da história da TV brasileira. Trata-se de alguém maravilhoso que só faz o bem, altruísta e amiga, mas eternamente incompreendida pela mãe Eva. A Manu abriu mão de sua própria adolescência para acolher a filha da irmã em coma como sua própria filha construindo nestes cinco anos uma relação maternal com a criança. A proximidade com o Rodrigo fez nascer um sentimento de amor entre eles até que acabaram se casando. Entretanto a Manuela nunca abandonou um sentimento de culpa em relação à irmã.

A personalidade da Manuela é assim: ela quase pede licença para existir, acredita que construiu sua vida sob uma espécie de legado da irmã, e que vive em função disso. Por isso mesmo, o retorno da irmã Ana joga a Manu num confuso sentimento de amor, culpa e insegurança como se ela não tivesse direito a nada e de repente ela se sente tão sem chão quanto a Ana.

Manuela: a mãe de Julia.

A relação entre Manu e Julia é de mãe e filha, alguém pode negar? Uma das acusações da Eva e do público é que a Manu "roubou" a filha da Ana. Então eu pergunto: o amor é algo que se pode "roubar"? O amor entre pais e filhos é uma obrigação? Acaso já nasce pronto ou vem escrito no DNA? O amor entre pais e filhos é construído no dia-a-dia, na relação de proteção, amor e cuidados que caracteriza a mãe em relação à filha. Por isso a Manuela é mãe da Julia e isso não tem cada a ver com "injustiças em relação à Ana". Não seria sincero obrigar a Julia a chamar a Manu de tia quando o amor entre elas é de mãe e filha. A Manu se envolveu com o Rodrigo numa armação do destino, também não teve culpa, mas jamais se permitiu a liberdade de não se sentir culpada.

Mas porque, apesar de ter feito sempre o bem e de querer o bem de todos, a Manu se sente tão culpada e aceita passivamente as acusações da Eva de ter "roubado" a vida da Ana ou de estar "vivendo a vida da Ana"? O sofrimento da Manu está em ser total doação, apagar-se a si mesma e colocar os sentimentos dos outros acima dos dela mesma. Por isso a Manuela sente estar ocupando o lugar da irmã. Há muitas “Manus” por aí, pessoas maravilhosas e incompreendidas.

Ana e Manuela.

O despertar da irmã Ana é algo maravilhoso para a Manuela, entretanto caiu como uma bomba destruidora abalando toda a estrutura da vida que a Manu construiu e colocando-a de frente com a grande dúvida de sua vida: ela acredita estar vivendo a vida da irmã e consequentemente se acha em dívida com a Ana e que nada do que construiu é seu de verdade. A Manuela se engana muito, pois ninguém pode saber se a relação Ana e Rodrigo daria certo, se a Ana conseguiria abrir mão da carreira de tenista, enfrentando mãe, treinadora e patrocinadores para formar uma família com o Rodrigo. Nós não sabemos disso e, embora muitas pessoas estejam propensas a acreditar em contos de fadas juvenis de amores eternos com finais felizes, ninguém pode saber ao certo qual teria sido o destino do casal se nãohouvesse o acidente. A Manuela também construiu com seu talento um Bufet e isso permitiu que o casal prosperasse como empresários, fato que a relação Rodrigo e Ana não seria capaz de fazer. A Manuela não vivia a relação tóxica da Ana com a mãe Eva, portanto estava mais livre para construir seu casamento do que a Ana caso o acidente não tivesse ocorrido.

Mas na cabeça da Manuela, ela vive a vida da irmã e se sente no dever de devolvê-la de alguma forma, como se fosse possível, ao mesmo tempo em que sabe que se fosse possível a Ana tomar seu lugar como esposa de Rodrigo e mãe de Julia, ela Manuela se veria repentinamente privada de tudo aquilo que construiu nestes cinco anos. E quanto ao investimento emocional na relação com Julia e Rodrigo? Este grande dilema na cabeça de Manuela transforma o retorno da irmã em algo ao mesmo tempo maravilhoso e ameaçador. E isso a faz sentir ainda mais culpada.

A Vida da Gente

A novela “A Vida da Gente” de Licia Manzo  é uma grata surpresa na televisão brasileira. Uma história feita de delicadas situações que trazem à tona discussões sobre relacionamentos humanos, entre pais e filhos, entre irmãos, entre casais. Nada na novela vem pronto e fácil de compreender. Não há mocinhos nem vilões. O público se divide em opiniões que expõe os preconceitos e a dificuldade das pessoas em compreender o outro. Observar o desenrolar da novela e as reações do público a este desenrolar é para lá de interessante.

Vamos ao início da trama principal. Uma família é formada por um casal cada qual com dois filhos: Jonas, pai de Rodrigo e Nanda e Eva, mãe de Ana e Manuela. Nesta família o relacionamento de pais e filhos é desarmônico porque Jonas só vive para o trabalho e Eva despreza a filha Manuela que era manca e sem graça colocando todas as suas expectativas na filha Ana, uma jovem e promissora tenista, de modo a criar uma relação sufocante de dependência emocional e financeira com a filha. Quanto aos enteados, para Eva eles nem sequer existiam. Entre as irmãs Ana e Manuela cresce cada vez mais um sentimento de amor e solidariedade para protegê-las da relação tóxica com a mãe que despreza Manuela e sufoca Ana.  Ana envolve-se amorosamente com seu irmão de criação Rodrigo, ao mesmo tempo que essa família construída sem laços termina com a bomba da traição de Jonas. Ana se descobre grávida após uma única relação com Rodrigo, mas não se permite viver este amor porque é cobrada pela mãe e pela treinadora a manter a carreira acima de qualquer coisa. Em todos os momentos e decisões da irmã Ana, Manuela a apoia incondicionalmente.

Então, Ana é convencida pela mãe e pela treinadora (Vitória) a partir para a Argentina, escondendo a gravidez do público e de Rodrigo, para entregar a filha em adoção. Manuela não concorda com nada disso e aconselha a irmã a procurar Rodrigo, mas a irmã rejeita a ideia e Manu não interfere apoiando incondicionalmente a irmã apesar de sofrer com isso. Ao nascer a criança, Ana decide não entregá-la e então a mãe dela resolve registrar a menina Julia em seu nome a fim de manter a mentira e preservar a carreira de tenista de Ana. Ana sustenta as mentiras da mãe e continua mentindo para Rodrigo sobre a filha.  Mas chega um momento em que Ana percebe ter perdido o controle sobre a filha e sobre sua vida por causa de Eva e decide mudar tudo, fugir para Gramado na casa da avó Iná, procurar Rodrigo e iniciar uma nova vida. Mas é exatamente neste momento que Ana, Manuela e a pequena Julia sofrem um terrível acidente no qual Manuela salva Julia, mas não consegue salvar a irmã que acaba ferida gravemente e fica em coma. Segundo os médicos, as chances de reversão desse coma são nulas. Eva culpa Manuela pelo acidente, despreza a neta e transforma sua vida numa obsessiva espera pela recuperação improvável da filha Ana.

Manuela sofre terrivelmente com a perda da irmã e acolhe a filha dela (Julia) como sua própria filha. Decide revelar a Rodrigo que Julia é filha dele com Ana e este resolve lutar pela menina, processando Eva e registrando Julia como filha dele e Ana. Expulso de casa, Rodrigo não tem outra opção além de viver na casa de dona Iná, avó de Ana e Manuela e criar sua filha ao lado de Manu. O tempo e o amor por Julia acaba por fazer nascer um sentimento de amor e carinho entre Rodrigo e Manuela. Ambos se sentem muito culpados por se sentirem traindo a Ana que estava como morta, mas não morta. Entretanto, o tempo, a proximidade e os sentimentos nascentes os aproximam de tal forma que eles acabam cedendo ao amor e formando uma família feliz e estável com a filha Julia. A relação entre Manuela e Julia se firma como relação de mãe e filha. Julia cresce feliz e segura com seus pais: Rodrigo, o pai biológico e Manuela sua tia biológica e mãe adotiva. A menina, levada sempre por Manuela, visita a mãe biológica no hospital, conhece toda a história de que saiu da barriga da Ana, mas para Julia essa outra mãe é alguém inerte que não interage com ela e é na família formada por ela, Manu e Rodrigo  que Julia reconhece seu mundo.

A vida seguiu seu rumo para a família Manu, Rodrigo e Julia de um modo harmônico e estável. Entretanto algo inesperado e maravilhoso acontece: um milagre improvável ocorre e Ana retorna do coma passados cinco anos. Isso cai como uma bomba e desestrutura completamente a vida da família feliz expondo sentimentos contraditórios, mas totalmente humanos e então daí nasce toda a beleza da novela. Os laços de amor entre Manu, Rodrigo, Ana e Julia são completamente verdadeiros, ninguém é invejoso ou age por mal, todos sofreram com o acidente da Ana e todos ficaram absolutamente felizes com a volta da Ana, mas todos ao mesmo tempo se sentem inseguros e ameaçados em relação aos próprios sentimentos. Isso é incrível e merece uma atenção especial.